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Após dois meses, mortes de Bruno e Dom ainda deixam perguntas sem respostas

Após dois meses, mortes de Bruno e Dom ainda deixam perguntas sem respostas

03/08/2022 às 08h24 Atualizada em 03/08/2022 às 11h24
Por: Redação
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Brazilian indigenous people protest for the demarcation of indigenous land and over the murder of British journalist Dom Phillips and Brazilian Indigenous affairs specialist Bruno Pereira, in Sao Paulo, Brazil, on June 23, 2022. (Photo by NELSON ALMEIDA /
Brazilian indigenous people protest for the demarcation of indigenous land and over the murder of British journalist Dom Phillips and Brazilian Indigenous affairs specialist Bruno Pereira, in Sao Paulo, Brazil, on June 23, 2022. (Photo by NELSON ALMEIDA /

Indigenistas cobram investigação de mandantes e dizem que caso não pode cair na vala comum de escândalos bolsonaristas

As mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips atraíram olhares de todo o mundo para os riscos que correm os defensores da Floresta Amazônica. Quase dois meses depois, porém, a insegurança persiste no Vale do Javari, e não se sabe se houve mandante dos crimes.

A dupla se locomovia de barco para a cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas, quando desapareceram quase sem deixar vestígios, no dia 5 de junho. Com a ajuda dos povos indígenas do Vale do Javari, as autoridades encontraram o barco usado por eles e o local dos corpos na mata.

Assista ao vídeo:

 

As investigações não revelaram um possível mandante, mas chegaram a três pescadores ilegais que teriam participado diretamente dos assassinatos. Eles estariam descontentes com o monitoramento de crimes ambientais conduzidos pelo indigenista. Ambos estão presos e viraram réus por homicídio.

Ao denunciar os pescadores à Justiça, o Ministério Público Federal (MPF) escreveu que o duplo homicídio teve motivo fútil, pois foi cometido por causa de uma foto tirada por Dom Phillips do barco onde estavam os suspeitos.

O único suspeito de ser o mandante dos crimes é o homem conhecido como Colômbia, um financiador da pesca ilegal no Vale do Javari. Ele apresentou documentos falsos, e a Polícia Federal não sabe qual é sua identidade real. Até agora, ele não foi acusado formalmente de nenhum crime.

"Não podemos deixar o assunto esfriar", diz Sydney Possuelo

Indígenas e indigenistas que defendem o Vale do Javari seguem desprotegidos. A Força Nacional foi enviada, mas não tem barcos nem armas de grosso calibre. As tropas se restringem a patrulhar a área urbana. Na floresta, servidores seguem vítimas de ameaças e foram orientados a afrouxar a fiscalização para evitarem conflitos com criminosos.

Um dos mais respeitados indigenistas do Brasil, o ex-presidente da Funai Sydney Possuelo afirma que as mortes do indigenista e do jornalista não podem cair na vala comum dos escândalos sucessivos produzidos pelo governo de Jair Bolsonaro

"A primeira coisa é não deixar esse assunto esfriar. É criar situações para a gente estar sempre lembrando e para ativar as nossas autoridades e também o engajamento do homem brasileiro comum que se preocupa com os povos indígenas e com a grande Floresta", afirmou Possuelo.

Amigo de Bruno pede que se chegue a mandantes

Amigo de Bruno Pereira e ex-chefe da Funai no Vale do Javari, o indigenista Armando Soares diz que fará tudo para as mortes não serem esquecidas. Ele aponta que é preciso esgotar todas as linhas de investigação em busca de um mandante.

Os conflitos na região, segundo Soares, são normalmente motivados por questões econômicas envolvendo a atuação de caçadores e pescadores ilegais.

"Cadê o trabalho da Polícia Federal com os homens que financiam essas atividades lá dentro? Com os políticos locais que sabidamente têm relação com isso. Como o 'Pelado' conseguiu aquele barco de 50 a 60 mil reais?", diz o servidor aposentado.

"Pelado" é o apelido de Amarildo Oliveira, que confessou participação nas mortes. Segundo indígenas do Vale Javari ouvidos pelo Brasil de Fato, a pesca ilegal conduzida por ele era financiada por pessoas ligadas ao narcotráfico e a políticos locais, personagens que não foram implicados pelas investigações.

Falta de apoio provocou mortes, diz indigenista

O ex-chefe da Funai no Vale do Javari afirma temer que a impunidade resulte em mortes de mais colegas de trabalho. Ele considera que a situação só vai melhorar quando a Funai superar o desmonte promovido pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e voltar a ser respeitada.

"Eu tive algumas situações de risco, fiz várias apreensões de pescado e carne de caça. Chegaram a cogitar, na cidade de Atalaia do Norte (AM), de me matar. Mas não fizeram porque sabiam que eu tinha o apoio da Polícia Federal e Exército?"

"Eu só posso chegar à conclusão de que, se o Bruno estivesse lá na minha época [início dos anos 2000], ele não teria morrido", lamenta Soares.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Fonte: Brasil de Fatoa

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