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Elizabeth Holmes, 'musa tech' condenada por fraude, atrapalha outras empreendedoras

Elizabeth Holmes, 'musa tech' condenada por fraude, atrapalha outras empreendedoras

08/01/2022 às 09h40 Atualizada em 08/01/2022 às 12h40
Por: Redação
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Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos queria revolucionar os exames laboratoriais com máquinas de diagnósticos mais rápidos que, mais tarde, se mostraram inúteis e a levaram a ser condenada pela Justiça americana

Gostamos de pensar que as fraudes marcam momentos importantes e nos ensinam lições verdadeiras. A WorldCom e a Enron levaram a ganância do boom das pontocom longe demais, e suas quedas sinalizaram um retorno a tempos mais sóbrios. O declínio e depois a morte de Bernie Madoff coroou um período de brutal engenharia financeira e lembrou a todos que retornos que parecem bons demais para ser verdade geralmente o são. E agora vemos a condenação por fraude da fundadora da Theranos, Elizabeth Holmes, que destaca o fim de... bem, possivelmente de nada.

Os investidores do Vale do Silício não mudarão seus hábitos por causa de Holmes. Membros da classe de capital de risco deixaram claro que nunca se enganaram com Holmes ou com a milagrosa história que ela contou sobre sua startup para testagem de sangue, em primeiro lugar. Praticamente todas as empresas de capital de risco que tiveram a chance de investir na Theranos não foram ludibriadas.

Um rastro de enganos

Foram os otários ricos com o bom e velho dinheiro da família que se apaixonaram por seus encantos e ostentação científica, permitindo que a Theranos arrecadasse mais de US$ 1 bilhão. Como os capitalistas de risco não veem nenhuma conexão entre Holmes e outras empresas problemáticas que eles apoiaram, eles pretendem continuar sendo gênios infalíveis e deixar os rubis continuarem sendo apenas rubis.

Não foram apenas investidores que a Theranos enganou. A empresa, fundada em 2003, começou a receber grande ajuda da imprensa de tecnologia e negócios por volta de 2014. Essa foi uma era mais simples e ingênua, em que os repórteres começavam cada história supondo que a tecnologia era uma força do bem, em vez da fonte de todos os nossos males modernos. Mas nós da imprensa de tecnologia também não planejamos mudar nossos hábitos por causa da Theranos, porque nos convencemos de que já internalizamos as lições daquela época. Mais diligentes e cínicos agora, não somos mais o tipo que se deixa enganar por uma boa história e um incomum e carismático líder.

E quanto ao conselho de administração da Theranos com nomes de destaque do meio político e militar que deram à empresa credibilidade quando ela não merecia? Eu ousaria sugerir que os tipos dos distintos cavalheiros brancos mais velhos que se apaixonaram por Holmes ainda podem ser atraídos pelos encantos de mulheres inteligentes, atraentes e mais jovens.

Se a condenação de Holmes realmente levar a algo positivo, seria um freio à cultura do Vale do Silício de "faça de conta até dar certo". “O veredito assinalou o fim de uma era”, escreveu David Streitfeld, no New York Times. “No Vale do Silício, onde a linha entre falar e fazer costuma ser vaga, finalmente há um limite para o faz de conta”. Ainda é possível fingir e fingir muito, mas agora há uma chance do indivíduo se encrencar de verdade, então limite-se a, pelo menos, fingir um pouco menos do que Holmes fez.

Vida difícil para outras empreendedoras

A triste realidade do desastre da Theranos é que sua principal e duradoura consequência pode ser tornar a vida mais difícil para algumas das pessoas que uma Holmes bem-sucedida mais poderia ter auxiliado: mulheres empresárias e diretoras executivas, especialmente as da indústria de biotecnologia. Veja o caso da Celine Halioua, fundadora e CEO da Cellular Longevity, empresa que busca estender a vida dos cães e, um dia, possivelmente de humanos, sob a marca Loyal. “Cada fundadora que trabalha em algo tecnicamente desafiador ou estranho é comparada a Holmes", diz Halioua. “Já vi isso várias vezes. E muitas vezes, é dito como uma piada, mas na verdade não é uma piada.” Recentemente, ao levantar fundos, Halioua ouviu tantas referências a Holmes de um potencial investidor que acabou recusando o dinheiro. Ela entendeu as provocações dele como sinal de sexismo — e reflexo de sua insegurança sobre se ele era realmente capaz de entender a tecnologia da Loyal.

Mesmo que seja injusto, agora cabe a pessoas como Halioua deixar claro que Holmes foi uma anomalia na indústria de biotecnologia. “O único aspecto positivo que senti é que na verdade havia uma motivação para dar um bom exemplo”, diz Halioua. “Ele destaca a importância dos modelos de comportamento e quanto impacto uma CEO, fundadora bilionária, realmente bem-sucedida pode causar.”

Em última análise, pode ser difícil tirar lições da queda de Holmes porque sua história foi realmente uma exceção. Mesmo em um setor repleto de vendedores ambulantes e de ganância, é rara a pessoa capaz de tecer uma história tão fantástica por 15 anos e se debruçar para a mentira com tanto entusiasmo. A moral da história de Holmes não é nenhuma verdade sobre a indústria de tecnologia ou para onde o mundo está indo. É que de vez em quando alguém que dá um golpe tão ridículo acaba sendo pego

Trechos da matéria de Ashlee Vance, da Bloomberg Businessweek, tradução de Anna Maria Dalle Luche. EXAME

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