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Mais de 300 mil vítimas de abuso sexual na Igreja Católica da França

Mais de 300 mil vítimas de abuso sexual na Igreja Católica da França

05/10/2021 às 14h45 Atualizada em 05/10/2021 às 17h45
Por: Redação
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Relatório de comissão independente identifica cerca de 3 mil agressores de menores num período de 70 anos, dois terços deles padres, e conclui que pedofilia é sistêmica na instituição. Meninos são maioria das vítimas.

Mais de 300 mil menores de idade, a maioria meninos, sofreram abuso ou agressão sexual em instituições da Igreja Católica da França, afirma um relatório elaborado por uma comissão independente formada por 22 pessoas e divulgado nesta terça-feira (05/10).

De acordo com o documento, escrito após dois anos e meio de pesquisas, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram vítimas de abusos cometidos por clérigos católicos ou religiosos entre 1950 e 2020.

O número de vítimas sobe para 330 mil se considerados também os agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica, como professores de escolas, disse o presidente da Comissão Independente sobre os Abusos da Igreja (Ciase), Jean-Marc Sauvé, que é vice-presidente do Conselho de Estado da França, durante a apresentação do relatório.

Segundo ele, os números baseiam-se numa estimativa estatística que tem uma margem de erro de cerca de 50 mil pessoas, tanto para mais como para menos. Cerca de 80% das vítimas são do sexo masculino.

O relatório de 2.500 páginas afirma que entre 2.900 e 3.200 abusadores (dois terços deles padres) trabalharam na Igreja francesa nesse período de 70 anos, quando cerca de 115 mil pessoas, ao todo, prestaram serviços para a Igreja Católica da França.

"Estes números são mais do que preocupantes, são condenáveis e não podem de forma alguma ser ignorados", disse Sauvé.

Ele acrescentou que as vítimas ficam traumatizadas pelo resto da vida. "Cerca de 60% dos homens e mulheres que foram abusados sexualmente revelam grandes problemas na sua vida sentimental ou sexual."

Fenômeno sistêmico

A Igreja Católica mostrou, "até o início dos anos 2000, uma profunda e até cruel indiferença para com as vítimas", considerou Sauvé, que lidera a comissão independente. Até 2000, as vítimas não eram levadas a sério ou nem sequer eram ouvidas, acrescentou.

A comissão concluiu haver um fenômeno de natureza sistêmica, cuja responsabilidade a Igreja Católica deveria assumir, assegurando reparação financeira para todas as vítimas.

A comissão trabalhou durante dois anos e meio, ouvindo vítimas e testemunhas e estudando os arquivos da Igreja, de tribunais, da polícia e da imprensa a partir dos anos 1950.

Uma linha telefônica criada no início da investigação recebeu 6,5 mil chamadas de pessoas que se identificaram como vítimas ou disseram conhecer uma.

De acordo com Sauvé, há 22 possíveis crimes que ainda não prescreveram e que foram encaminhados para as autoridades judiciais.

Mais de 40 casos demasiado antigos para resultar em processo judicial, mas que envolvem suspeitas sobre abusadores ainda vivos, foram encaminhados para análise dentro da própria Igreja.

Números podem estar subestimados

A comissão emitiu 45 recomendações sobre a forma de prevenir abusos, incluindo formação de padres e outros clérigos, a revisão do Direito canônico  e a promoção de políticas de reconhecimento e compensação das vítimas.

O presidente da Confederação dos Bispos da França, Eric de Moulins-Beaufort, expressou vergonha e horror e pediu perdão às vítimas.

O líder da associação de vítimas Parler et Revivre, Olivier Savignac, que contribuiu com a investigação, sublinhou que a elevada proporção de vítimas por agressor é particularmente "aterrorizante para a sociedade francesa e para a Igreja Católica".

O relatório teve origem no escândalo que envolveu o ex-padre Bernard Preynat, condenado, em 2020, a uma pena de prisão de cinco anos por ter abusado sexualmente de mais de 75 rapazes durante décadas.

Uma das vítimas de Preynat, François Devaux, líder do grupo de vítimas La Parole Libérée, considerou que, "com esse relatório, a Igreja francesa vai, pela primeira vez, à raiz desse problema sistêmico".

Os responsáveis pelo relatório disseram que tanto o número de vítimas como o de agressores sexuais pode estar subestimado. "Algumas vítimas não ousaram falar ou confiar na comissão", comentou Devaux.

Fonte: DW

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