Como uma ‘mãe coruja’, Sirlete Santos da Silva, 42 anos, levava regularmente ao pediatra suas filhas Maria Eduarda da Silva Trindade, 11 anos, e Ana Beatriz da Silva Trindade, 14 anos. A rotina de cuidados foi interrompida em 2020, por causa da pandemia. “Até hoje não levei, pois não me sinto segura”, disse a mãe, que é rigorosa no distanciamento social. O reflexo disso está nos números. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no Brasil, a pediatria foi a especialidade que teve maior queda no número de consultas no ano passado, atingindo uma redução de 35%.
De acordo com a Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), não há um levantamento do tipo por estado, mas estima-se que a queda seja a mesma na Bahia. “Eu não sei se seria o mesmo percentual de 35%, mas é estimado que seja em torno disso. Um pouco mais ou menos a depender do período. No início da pandemia, quando houve mais isolamento, esse índice pode ter chegado a quase 60%, pois os consultórios ficaram fechados. Mas aos poucos foram reabrindo”, disse a médica pediatra Dolores Fernandez, presidente da Sobape.
O médico Matheus Mendonça (@ped.matheus.mendonca) sentiu essa redução na prática. 2020 foi o ano que ele exerceu pela primeira vez sua especialidade de pediatra em consultórios. Mas quando chegou março, tudo teve que ser interrompido.
“Entre março e junho, se não me engano, o número de atendimento foi zero. Só depois que começou a ter uma abertura gradual, mas as mães ainda tinham medo. Tivemos que fazer uma desconstrução desse temor, mostrar que cumprimos todos os protocolos de segurança e explicar a importância de ir para o pediatra”, lembra.
A pediatra Ana Patrícia Almeida, que trabalha em Lauro de Freitas, também sentiu o impacto da pandemia, mas fez adaptações na sua clínica para receber pacientes em estado de urgência ou emergência. “Eu passei uma semana para me adaptar e depois garantir um ambiente que as clientes tivessem conforto e sem exposição”, afirma.
Para isso ser possível, ela aumentou o intervalo entre as consultas para não haver encontro dos pacientes, o que também contribuiu para que houvesse menos consultas em determinados momentos. Antes ela atendia uma média de sete pacientes por turno. Hoje esse número não chega a cinco. “Vale a pena, pois tudo isso garante a segurança dos nossos clientes”, explica a médica.
Esse também é o motivo apontado para redução das consultas pela médica Célia Silvany. Ela acredita ainda que os as crianças estão ficado menos doentes já que estão saindo menos. A exceção é para a época do inverno, quando as infecções respiratórias tendem a aumentar. "As crianças têm o coronavírus mais leve. A redução maior também foi a consulta de puericultura, a consulta na qual a mãe leva o bebê ao consultório para saber se ele está se desenvolvendo normalmente, a fala, o andar, os reflexos, consultas de rotina para os menores", revela.
Para pediatra, pandemia gerou diminuição da “cultura do pronto-socorro"
A pediatra Ludmila Carneiro atua na sua própria clínica e na emergência do Hospital Santa Izabel. Ela observou a queda na procura pela sua especialidade, mas observa que em 2021, os pais estão procurando levar mais seus filhos ao pediatra. “A queda é maior na procura pelo serviço de emergência, o que até certo ponto é uma coisa boa para diminuir a cultura do pronto-socorro", avalia.
Sobre esse tipo de prática, Ludmila explica que alguns pais não levam seus filhos para consultas regulares e, apenas quando surge uma emergência, eles procuram o sistema de saúde sem que haja um médico que já acompanhe a criança com regularidade.
“O que estou vendo agora é que as pessoas estão se preocupando mais com a prevenção, em manter os filhos saudáveis para que, caso haja alguma doença, independentemente de ser covid ou não, o desfecho seja mais favorável. Acho que isso é, inclusive, uma consequência da pandemia, que tem trazido questões relacionadas à saúde para o diálogo dentro de casa”, aponta.
Ludmila Carneiro em seu local de trabalho (Foto: divulgação) |
Esse cenário já pôde ser observado pela pediatra Verônica Esteves, que argumenta que a situação já está um pouco melhor. No caso dela, os últimos três meses têm sido de maiores quantidades de consultas marcadas, e menor nível de falta dos pacientes. "Não 100%, porque estamos limitando a quantidade de pacientes para não acontecer aglomerações, mas a procura pelo atendimento continua", relata.
Fonte: Correios24horas
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