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Pedro Castillo passa Keiko Fujimori na disputa pela presidência do Peru

Pedro Castillo passa Keiko Fujimori na disputa pela presidência do Peru

07/06/2021 às 14h37 Atualizada em 07/06/2021 às 17h37
Por: Redação
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Foto: Reprodução
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Últimas urnas a serem apuradas vêm de regiões rurais, redutos do sindicalista; diferença de 0,1 ponto percentual dificulta antecipar vencedor

Com 92,8% das urnas contabilizadas, o sindicalista Pedro Castillo, da ultraesquerda, ultrapassou Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), em uma disputa voto a voto pela Presidência peruana. Após passar toda apuração atrás, Castillo agora tem 50,1% dos votos, contra 49,9% de Keiko, do Força Popular. A diferença entre os dois é de quase 34,2 mil votos.

Segundo dados oficiais da Oficina Nacional de Processos Eleitorais (Onpe), a maciça parte das atas que ainda precisam ser contadas vêm de regiões rurais, redutos de Castillo. Os votos de quase 750 mil peruanos que vivem no exterior, contudo, também podem ser decisivos: com apenas 20% das urnas apuradas, Keiko lidera com folgados 63%, margem que dificulta projetar quem será o novo presidente peruano.

Desde o encerramento da votação de domingo já se previa que a disputa seria acirrada. Uma pesquisa de boca de urna realizada pelo Instituto Ipsos apontou Fujimori com leve vantagem sobre o sindicalista: 50,3% e 49,7% dos votos, respectivamente. A margem de erro era de 3%.

A mesma organização, no entanto, realizou uma contagem rápida extraoficial — uma projeção baseada em 1.700 atas eleitorais — que inverteu a boca de urna e colocou Castillo à frente: 50,02% a 48,8%. Neste caso, a margem de erro é um pouco menor, de 1%.

O empate técnico é símbolo da imensa polarização política e social no país: Keiko venceu com folga nas áreas mais ricas, incluindo Lima e o litoral. Na capital, onde todas as urnas já foram apuradas, obteve 65,7% dos votos. O percentual é signficativo, já que 7,3 milhões dos 23 milhões de peruanos aptos a votar vivem neste colégio eleitoral.

Castillo, por sua vez vence em 16 dos 25 departamentos eleitorais listados pela Onpe, confirmando seu favoritismo nas áreas pobres e pouco amparadas pelo governo, mas menos populosas. Seu sucesso condiz com o agravamento da situação nestas áreas em meio a pandemia, que fez o Produto Interno Bruto peruano despencar 11% em 2020. Nas regiões montanhosas de Apurimac e Ayacucho, o candidato chega a liderar com mais de 80% dos votos.

— Peço que mantenham a calma. É necessário sermos prudentes. O povo sabe o que faz, é inteligente — disse Castillo ainda no doming, após o encerramento da votação, ressaltando que os votos rurais seriam contados por último e que esperaria a contagem da Onpe.

O sindicalista ganhou projeção nacional após liderar uma greve nacional de professores em 2017, desencadeando uma crise no governo de Pedro Pablo Kuczynski  (2016-2018). Ele se apresenta como uma figura antissistema, mas socialmente conservadora. Assim como Keiko, esquivou-se nos debates de temas como casamento LGBTI+, questões de gênero ou a legalização do aborto.

A principal diferença entre os dois candidatos está na economia: Keiko adotou um clássico perfil populista durante a campanha, mas representa a continuidade do modelo neoliberal instaurado pelo pai — que cumpre pena de 25 anos por crimes contra a Humanidade. Castillo, por sua vez, defende um Estado ativo na economia. Promete, por exemplo, reter 70% dos lucros da mineração do país, e usar os fundos para investir em saúde, educação e redução da pobreza.

O surgimento do professor na cena política, com uma força inesperada, assustou os que pretendem preservar o a status quo — a promessa de convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Carta Magna que substitua o documento promulgado por Fujimori em 1993, em particular, causa arrepios. O medo de Castillo é tanto que personalidades da política e da cultura tradicionalmente antifujimoristas, como o escritor Mario Vargas Llosa, optaram por respaldar a candidatura de Keiko.

Esta é a terceira vez que a candidata tenta concorrer à Presidência, após ser derrotada nas duas eleições anteriores pelos ex-presidentes Ollanta Humala (2011-2016) e Kuczynski. Em ambos os pleitos, a filha de Fujimori enfrentou candidatos com uma base de apoio maior do que a de Castillo e, também, com mais recursos econômicos.

Para ela, vencer seria a única maneira de obter imunidade. Processos por suposta corrupção contra a candidata avançam na Justiça peruana e poderiam levá-la, novamente, à prisão. De 2018 a 2019, Keiko passou 13 meses detida preventivamente, acusada de crimes lavagem de dinheiro.

Nas últimas semanas, especulou-se que, caso fosse derrotada, a candidata poderia usar suas influências para barrar e até mesmo destituir um eventual governo de Castillo. Aliada a outros partidos conservadores, a filha de Fujimori poderia, avaliam analistas, exercer pressão no Congresso, derrubar Castillo e provocar a convocação de novas eleições.

O Ministério Público peruano assegura ter 14 depoimentos contundentes contra Keiko, que confirmam sua responsabilidade em crimes de lavagem de dinheiro. Seu marido, Mark Vito Villanella, que chegou a fazer greve de fome quando sua mulher esteve detida, também corre risco de prisão.

A campanha de Keiko para o segundo turno teve dois eixos centrais: pedido de perdão pelos erros passados do fujimorismo e a promoção de um clima de terror diante do risco de vitória de Castillo.

A base desta campanha são supostos vínculos entre Castillo e grupos relacionados à guerrilha maoista Sendero Luminoso — até hoje, no entanto, não foi provado qualquer tipo de relação entre o candidato e o movimento. Os escândalos de corrupção envolvendo o presidente do Peru Livre, Vladimir Cerrón, e seus vínculos com Cuba e Venezuela também são apontados por opositores.

Bancos, companhias de eletricidade e shoppings de Lima instalaram tapumes de madeira para prevenir supostos ataques terroristas que seriam promovidos, segundo seguidores de Keiko, por grupos aliados a Castillo. Foi a maneira que grandes grupos econômicos que optaram por Keiko na reta final da eleição encontraram de contribuir com a campanha de medo instalada pelo fujimorismo.

Regionalmente, uma vitória de Castillo possivelmente aproximaria o Peru da frente de governos de esquerda latino-americanos. Seu vínculo com o Movimento para o Socialismo, partido governista da Bolívia, e com o presidente Luis Arce são conhecidos, tal qual com o governo de Nicolás Maduro. Uma das primeiras consequências da eleição de Castillo seria a saída do Peru do Grupo de Lima, criado por iniciativa de Lima para pressionar por uma mudança de regime na Venezuela.

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