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Primeiro-ministro da Etiópia ganha o Nobel da Paz após firmar acordo que pôs fim a 20 anos de conflito

Primeiro-ministro da Etiópia ganha o Nobel da Paz após firmar acordo que pôs fim a 20 anos de conflito

11/10/2019 às 13h54 Atualizada em 11/10/2019 às 16h54
Por: Redação
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Foto: Reprodução
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Abiy Ahmed trabalhou para aprovar pacto que acabou com confronto entre etíopes e a vizinha Eritreia; é o segundo ano consecutivo que o prêmio é concedido a africanos.

O Comitê Norueguês do Nobel, responsável pelo  Nobel da Paz , anunciou na manhã desta sexta-feira que o prêmio deste ano vai para o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed , por seus esforços em acabar com o conflito com a vizinha Eritreia e pela cooperação internacional . O anúncio foi feito em Estocolmo, na Suécia, e representa a 100o premiação da categoria .

Ao se tornar primeiro-ministro em abril de 2018, Abiy , de 43 anos, deixou claro o desejo de retormar as negociações de paz com o país vizinho, após de 20 anos de hostilidades . A Guerra Eritreia-Etiópia , entre 1998 e 2000, havia deixado 80 mil mortos em apenas dois anos. Em julho do ano passado, Abiy e o presidente eritreu, Isaias Afwerki,  assinaram um acordo de paz . O nome do etíope, então, passou a ser cotado como um dos favoritos para ganhar o prêmio.

Abiy é o segundo africano consecutivo a ser premiado com o Nobel da Paz , seguindo o congolês  Denis Mukwege , premiado por seus esforços no combate ao estupro e a violência contra as mulheres. O premier etíope é o 24o africano a ser premiado .

"O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, foi agraciado com o prêmio Nobel da Paz deste ano por seus esforços em atingir a paz e a cooperação internacional e, em particular, por sua iniciativa decisiva de resolver o conflito com a vizinha Eritreia", disse a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen.

— Eu me sinto tão honrado e emocionado. Muito obrigado. Esse é um prêmio para a África, dado à Etiópia, e imagino que os demais líderes da África vão recebê-lo como um estímulo para trabalhar no  fortalecimento do processo de paz no nosso continente —disse Abiy . — É um grande reconhecimento.

O Acordo de Paz - Os desentendimentos entre a Eritreia e a Etiópia datam da divisão do continente africano no pós-Guerra que culminaram na anexação do território eritreu pelos etíopes, em 1962. Em 1991, quando a junta militar que governava Adis Abeba foi derrubada, ficou definido que a Frente Popular da Eritreia , líder do movimento separatista, deveria comandar um governo autônomo de transição. Em abril de 1993, a Eritreia se tornou independente da Etiópia.

Os dois países , entretanto, não conseguiram chegar em um consenso sobre suas fronteiras, desencadeando a guerra. Em 2000, as duas nações concordaram em firmar um cessar-fogo que determinava uma zona de 25 quilômetros protegida por uma missão das Nações Unidas. Os termos do acordo, entretanto, eram contestados e a relação entre os dois países continuou tensa.

Abiy chegou ao poder em abril do ano passado e imediatamente anunciou que daria prosseguimento ao processo de paz com o país vizinho, trabalhando em cooperação com o presidente Isaias Afwerti, da Eritreia. Em julho de 2018, ele viajou até a fronteira entre os dois países sem alertar boa parte de sua Chancelaria. A visita atípica do premier, costumeiramente acusado de utilizar seu carisma e iniciativa pessoal para firmar acordos em vez de recorrer aos meios governamentais, culminou na assinatura do pacto com Afwerti.

Desde então, o pacto vem lentamente se transformando em medidas concretas, e se tornou um exemplo de como até mesmo conflitos históricos podem ser solucionados. A Eritreia e a Etiópia restauraram suas relações diplomáticas e os dois líderes se encontram frequentemente para discutir como reconectar as duas nações. As telecomunicações foram restauradas , permitindo que famílias separadas pela guerra pudessem se reconectar.

Mudanças domésticas - Abiy também tem defendido mudanças internas e internacionais, indicando ex-dissidentes para cargos em seu governo. Reformas internas incluem o fim do veto a partidos políticos, a libertação de jornalistas detidos e a expulsão de militares acusados de tortura. Ele promoveu a Presidência a primeira mulher a ocupar o cargo no país, Sahle-Work Zewde, e nomeou diversas mulheres para seu Gabinete.

Críticos apontam que ele ainda não apresentou uma reforma democrática e que o prêmio seria precoce, mas a presidente do Comitê responsável pelo prêmio, Berit Reiss-Andersen, disse discordar desses argumentos:

— Nós reconhecemos sua intenção de realizar eleições democráticas no ano que vem, e eu não concordo com a premissa dessa questão, porque muito já foi conquistado na direção de transformar a Etiópia em uma democracia, mas ainda há um longo caminho pela frente. Roma não foi feita em um dia, e nem a paz e o desenvolvimento democrático serão conquistados em um curto período de tempo.

Abiy é o primeiro membro do maior grupo étnico da Etiópia, os Oromos, a chegar ao poder. Por décadas, os oromos foram marginalizados politica, econômica e culturalmente no país. Nascido no Leste do país, ele se juntou à resistência contra a junta militar que governou o país até 1991 antes de se alistar no Exército, onde chegou a ser tenente-coronel.

Doutor em Estudos de Paz e Segurança, o premier etíope liderou os serviços de ciberinteligência do país por um breve período, antes de ingressar na vida política, representando os Oromos. Três meses após ser eleito, um dos comícios de Abiy foi alvo de um ataque a granada que deixou duas pessoas mortas. Em outubro do mesmo ano, o premier disse ter sofrido uma tentativa de golpe militar. Segundo Reiss-Andersen, o comitê não havia conseguido contactar Abiy antes do prêmio para congratulá-lo, como é de praxe.

Repercussão - A vitória de Abiy foi entendida internacionalmente como um sinal de mudança no continente africano. "Eu tenho dito com frequência que os ventos da mudança estão soprando mais forte que nunca pela África. O primeiro-ministro Abiy Ahmed é uma das principais razões disso", disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em comunicado. "Esse marco [o acordo de paz] abriu novas oportunidades para que a região tenha segurança e estabilidade e a liderança do primeiro-ministro Ahmed é um maravilhoso exemplo para outros na África e além."

A Anistia Internacional, via Twitter, disse que o prêmio deverá servir como uma oportunidade para "impulsionar e motivar" Abiy a "enfrentar os imensos desafios de direitos humanos que ameaçam a reversão das conquistas obtidas até o momento". O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que Abiy "tem demonstrado que a paz é possível com paciência, coragem e convicção".

Antigos vencedores - Em 2018, o prêmio foi concedido a dois ativistas que dedicam suas vidas a combater o estupro e a violência sexual como arma de guerra : o ginecologista congolês Denis Mukwege, de 63 anos, e Nadia Murad, de 25 anos, da minoria yazidi. Segundo o comitê responsável pela escolha, os dois, que não eram as principais apostas, receberam a honraria "por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como uma arma em guerras e conflitos.

Desde 1901, o Nobel já premiou chefes de Estado, como Barack Obama (2011), Mikhail Gorbachev (1990) e Menachem Begin (1978), além de ativistas, a exemplo de Malala Yousafzai (2014), e organizações internacionais, como a União Europeia (2012) e as Nações Unidas (2001).  Neste ano, havia 301 candidaturas definidas, incluindo indivíduos e organizações, mas não se sabe quais foram nomeados nem suas identidades.

O prêmio é concedido pelo Comitê Norueguês do Nobel, basendo-se no testamento de Alfred Nobel, cientista e empresário sueco. Ele é composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 3,7 milhões).

Desde a última segunda-feira, o Nobel já divulgou os laureados das categorias de Medicina, Física, Química e Literatura. Na próxima segunda-feira, será a vez de Economia.

 

Fonte: Jornal O Globo

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