Quinta, 28 de Março de 2024
22°C 33°C
Alagoinhas, BA
Publicidade

Sem refinarias suficientes para descartar importação, Brasil pode ter falta de combustível se travar preços. Entenda por quê

Sem refinarias suficientes para descartar importação, Brasil pode ter falta de combustível se travar preços. Entenda por quê

10/05/2022 às 06h00 Atualizada em 10/05/2022 às 09h00
Por: Redação
Compartilhe:
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Apesar da insuficiência, especialistas não veem espaço para novas refinarias, o que reforça política da Petrobras, que segue cotação internacional do petróleo

O novo reajuste do óleo diesel, de 8,87%, anunciado pela Petrobras para entrar em vigor hoje nas refinarias, não foi concedido apenas para que houvesse uma paridade do preço com a cotação internacional do petróleo.

A correção não zerou a defasagem, mas  é necessária para que não falte combustível nos postos do país. E isso ocorre por uma deficiência do Brasil na área de refino de derivados de petróleo.

O novo reajuste do óleo diesel, de 8,87%, anunciado pela Petrobras para entrar em vigor hoje nas refinarias, não foi concedido apenas para que houvesse uma paridade do preço com a cotação internacional do petróleo.

A correção não zerou a defasagem, mas  é necessária para que não falte combustível nos postos do país. E isso ocorre por uma deficiência do Brasil na área de refino de derivados de petróleo.

Planos de refinarias naufragaram

Apesar dessa insuficiência na área de refino, especialistas não veem espaço para novos grandes investimentos neste mercado no país, como a construção de novas refinarias. Esse cenário reforça o modelo de preços adotado pela Petrobras, que segue a cotação do dólar e do barril de petróleo no mercado externo.

Márcio Félix, ex-secretário de Petróleo do Ministério de Minas e Energia e atualmente CEO da EnP Energy, lembra o histórico do refino no país, que data da década de 1970, quando as últimas grandes plantas entraram em operação.

O ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Felix Foto: Givaldo Barbosa/1-6-2018 / Agência O Globo
O ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Felix Foto: Givaldo Barbosa/1-6-2018 / Agência O Globo

A partir de 2006, vieram projetos de novas refinarias — especialmente o Comperj (no Rio de Janeiro), e Abreu e Lima (em Pernambuco) — e as refinarias premium (no Maranhão e no Ceará). Os investimentos não aconteceram e viraram alvos da Operação Lava-Jato, que apontou esquemas de desvios bilionários em obras da empresa.

A Petrobras projetava chegar à marca de 3,4 milhões de barris refinados por dia em 2015, o que colocaria o Brasil entre os cinco países com maior produção de derivados de petróleo.

Essa marca nunca foi atingida e não consta dos planos atuais. Em 2021, as refinarias da Petrobras processaram 1,9 milhões de barris por dia, volume próximo do registrado em 2008.

A Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco: capacidade de refino menor que o projetado Foto: Reprodução/Site da Petrobras
A Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco: capacidade de refino menor que o projetado Foto: Reprodução/Site da Petrobras

— A ideia era que o Brasil ia ter tanto derivado que iria exportar para o Hemisfério Norte. As refinarias não saíram e essa importação começou a acontecer. Essas coisas estão associadas — diz Félix. — Se não tem um preço adequado aqui, não se importa combustível. O privado não vai importar e a Petrobras, também tem mais como fazer isso sofrendo prejuízos. Foi criada uma blindagem e ficou uma equação difícil de mexer.

O ex-secretário acrescenta:

— O domínio que a Petrobras tem e a possibilidade de interferência faz com que ninguém invista em refinaria no Brasil.

Unidades não alcançam 100% da capacidade

Valéria Lima, diretora-executiva de Downstream (mercado de derivados) do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), afirma que as refinarias do país hoje operam com cerca de 88% da sua capacidade.

É um valor, inclusive, superior aos pares internacionais. É preciso importar diesel, por exemplo, diante da predominância do modal rodoviário no país.

— A gente almejar a atender 100% da demanda nacional para derivados não é factível. O Brasil é um país aberto, com muita relação comercial. Essa coisa de achar que vai ser um país fechado, sem importar nada, não conversa com essa economia aberta que a gente tem — afirma Valéria.

Posto de combustíveis em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio: preços não param de subir Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Posto de combustíveis em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio: preços não param de subir Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

A executiva do IBP continua:

— Mesmo se a gente fosse uma economia auto suficiente, não vai ter ninguém querendo investir aqui se não tiver a mesma margem que ele tem no exterior. Não se pode perder o norte dos preços internacionais. A gente nunca vai importar zero.

Valéria também não vê espaço para construção de novas refinarias do zero. Esse tipo de empreendimento demora para ser amortizado e começar a dar retorno e não há mais tempo para isso, segunda ela, por conta da urgência da transição energética.

Venda de refinarias da Petrobras está atrasada

Por isso, o foco do setor neste momento é o programa de desinvestimentos da Petrobras. Originalmente, a empresa se comprometeu junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a vender metade de sua capacidade de refino, oito refinarias, até dezembro do ano passado. Mas a companhia não conseguiu cumprir esse prazo, que foi ampliado. O novo cronograma não foi informado.

Das oito unidades, a Petrobras conseguiu vender apenas três. A maior delas foi a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, para o fundo árabe Mubadala por US$ 1,65 bilhão. A unidade, rebatizada de Mataripe, responde, sozinha, por 14% de toda a capacidade de refino do Brasil.

Petrobras: Corrupção e má alocação de recursos inviabilizaram projetos bilionários de novas refinarias Foto: Agência Petrobras
Petrobras: Corrupção e má alocação de recursos inviabilizaram projetos bilionários de novas refinarias Foto: Agência Petrobras

Para Márcio Couto, coordenador de pesquisa da FGV Energia, esse processo foi prejudicado pela pandemia de Covid-19, mas será retomado.

— De uma maneira geral, o que se espera é que esses novos agentes aumentem a produção em termos de derivado, atendendo melhor os mercados que precisam de algum tipo de complementação de demanda — disse.

Couto também rechaça o controle de preços e lembra que a arrecadação de União, estados e municípios disparou com as receitas de petróleo. Como o GLOBO mostrou, depois de bater recorde em 2021, a arrecadação de União, estados e municípios com a produção de petróleo deve terminar o ano com um novo salto de 58,9%, para R$ 118,7 bilhões, segundo projeção da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

— A discussão agora deveria ser como usar esse dinheiro que União, estado e municípios têm por conta da alta do petróleo. Como usar esse dinheiro para política pública adequada, para aumentar o bem-estar da população. Se houver um investimento bem gasto, tem ganhos enormes para a sociedade, muito maiores que o congelamento de preços — disse.

Fonte: O Globo

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Lenium - Criar site de notícias