Após desabar na fase inicial da pandemia, a venda de carros zero-quilômetro acelera no Rio Grande do Sul. Em setembro, o mercado de automóveis e veículos comerciais leves reforçou os sinais de reação com a quinta alta consecutiva no Estado. Em relação a agosto, o avanço chegou a 23,3% — 10,5 mil unidades foram negociadas no mês passado.
Ao confirmar o resultado, o setor alcançou nível de venda semelhante ao verificado antes da chegada da covid-19. Até agora, a melhor marca mensal de 2020 ocorreu em janeiro. À época, 10,6 mil unidades foram emplacadas no Rio Grande do Sul, indica levantamento do Sincodiv-RS, a partir de dados da Fenabrave. As entidades representam as concessionárias no Estado e no país.
Mesmo com o alívio nos últimos cinco meses, o setor segue no vermelho no acumulado de 2020. De janeiro a setembro, 70,1 mil automóveis e comerciais leves foram negociados pelo mercado gaúcho. O resultado corresponde a recuo de 32,4% em relação a igual intervalo de 2019.
Na visão do presidente do Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, a melhora recente pode ser atribuída à demanda reprimida pelo início da crise. Ou seja, com o isolamento social, concessionárias tiveram mais restrições para operar no começo da pandemia, o que freou negócios à época. A partir das medidas de flexibilização, mais vendas passaram a ser formalizadas.
Outro fator positivo para os negócios é o juro em baixa, lembra o dirigente. A taxa Selic, que serve de referência para modalidades de crédito no país, está na mínima histórica — 2% ao ano.
— Com o isolamento, o mercado se retraiu. Após a reabertura, houve ajuste no consumo. Estamos experimentando crescimento paulatino desde maio — analisa Siqueira.
Em 2020, o pior desempenho mensal ocorreu em abril. Na ocasião, as vendas despencaram 47,9% frente a março, com 3,7 mil automóveis e comerciais leves emplacados. No mês seguinte, os negócios ganharam velocidade, iniciando a série de cinco elevações na comparação com o mês imediatamente anterior.
De carona com o Brasil - A melhora gaúcha pega carona no embalo nacional. Depois de desabarem em abril, com queda de 67%, as vendas de automóveis e comerciais leves zero-quilômetro registraram cinco avanços consecutivos no país. Em setembro, subiram 14,6% frente a agosto, com 198,8 mil unidades comercializadas. Até o momento, é o melhor resultado mensal de 2020.
No acumulado do ano, os negócios ainda estão em marcha a ré. De janeiro a setembro, caíram 32,9% frente a 2019, com quase 1,3 milhão de unidades emplacadas.
O professor Antônio Jorge Martins, que coordena cursos da área automotiva na Fundação Getulio Vargas (FGV), também entende que a recuperação de parte das perdas no Brasil reflete aspectos como o juro mais baixo. Segundo o especialista, consumidores interessados em comprar um carro neste momento podem encontrar condições favoráveis junto a concessionárias. É que, em razão da baixa na renda de parte da população, montadoras e concessionárias tendem a adequar ofertas à realidade de crise.
— Existe uma demanda reprimida no mercado. As montadoras criam condições financeiras para minimizar os impactos da crise na renda da sociedade. As pessoas vêm aproveitando — observa o professor.
No Rio Grande do Sul, a perspectiva é de que a venda siga em retomada até dezembro, mas sem recuperar todas as perdas do ano. No acumulado de 2020, a queda deve ficar próxima de 20%, conforme Siqueira.
— O momento é propício para o consumidor. Na segunda metade do ano, começam lançamentos e promoções, alavancadas pelo momento que estamos vivendo. As concessionárias precisam recuperar o faturamento. Associa-se a isso o fato de as taxas de juro estarem em baixa — comenta o presidente do Sincodiv-RS.
Retomada em usados e seminovos - Depois do impacto inicial da pandemia, a venda de carros usados e seminovos também apresenta reação no Rio Grande do Sul. Em setembro, os negócios envolvendo automóveis e comerciais leves subiram 6,8% em relação a agosto, para 78,4 mil unidades, o melhor resultado mensal em 2020. Trata-se do quinto avanço consecutivo, apontam dados compilados pela Fenauto, que representa os revendedores no país.
Assim como ocorreu com o segmento de veículos zero-quilômetro, o setor de usados e seminovos sentiu mais os efeitos da crise em abril. Na ocasião, a venda despencou 38,7% frente a março, para 29,1 mil unidades. A partir de maio, houve melhora.
— Tivemos demanda retraída pela pandemia. Ao retomar as atividades, o setor voltou com força — afirma Rodrigo Dotto, presidente da Agenciauto-RS/Fenauto, que representa os revendedores no Estado.
Para o dirigente, a compra de um carro passou a ser considerada uma forma de precaução durante a pandemia, evitando aglomerações em meios de transporte público.
Além disso, em tempos de aperto financeiro, um motorista pode procurar revendas para negociar seu automóvel e receber de volta outro de menor valor, em tentativa de economizar, acrescenta Dotto.
Mesmo com o alívio desde maio, a venda de automóveis e comerciais leves usados e seminovos seguiu no vermelho no acumulado do ano. De janeiro a setembro, 550,9 mil unidades foram negociadas, baixa de 7% ante igual período de 2019.
Até dezembro, a perspectiva é de novos avanços mensais. Assim, espera-se que o setor consiga reverter o desempenho no acumulado e que encerre 2020 no azul, relata Dotto:
— A expectativa é de fechar o ano com resultado positivo.
Fonte: GZH - Gazeta Zero Hora
Mín. 22° Máx. 33°